domingo, 8 de maio de 2011

Reflexões Profundas


Para que possamos estabelecer que a vida tem algum sentido, uma finalidade, seria necessário saber que “verdade maior” justificaria a nossa existência. Mas, será que existe uma verdade maior, pronta, fixa, a partir da qual todo o fenômeno da vida se desenrola e encerra um sentido maior de ser?
Diante de possibilidades de validação da “verdade maior” que estabeleça o sentido da vida, encontramos apenas considerações:
1)     O sentimento do Amor – É quase um consenso universal a idéia de que o Amor é o sentimento a partir do qual tudo existe, tudo se destina, tudo se começa, tudo se encerra, tudo se resgata, tudo se resolve. O Amor é sempre o ponto de partida, o ponto de travessia e o ponto de chegada. Se por ventura o amor não for isso, pelo menos é um desejo coletivo que ele o seja. O Amor é tido como o sentimento sublime por excelência, o sentimento original, arcaico, primordial. É o sentimento por Lei. É a Lei Natural. É a Lei do Amor. Ao estabelecer que o Amor seja a “verdade maior” inerente a toda a existência, encerra-se o argumento decisivo sobre esta questão: o sentido da vida está exatamente em viver a partir do sentimento do Amor, que está em tudo, que tudo permeia e no qual tudo se apóia.
2)     A Lei do Progresso/da evolução – Sem dúvidas é bastante plausível a idéia de que o sentido da vida encontre justificativa na Lei do Progresso/da Evolução. Há quem sustente ferrenhamente que, tudo o que existe, está sujeito a esta Lei. A Evolução, enquanto possível Lei Natural, opera em todas as esferas que já conhecemos: física (material), pessoal (moral, consciencial, espiritual etc.). Tudo o que existe concorre à contínua Evolução, mesmo que lenta. A Biologia demonstra com clareza que todas as espécies de seres vivos, enquanto organismos físicos vivos, chegaram às formas conhecidas atualmente graças à Evolução, que vem se operando desde os tempos mais remotos. O próprio homem evoluiu muito ao longo da história evolutiva das espécies vivas do planeta. E se evoluiu fisicamente, por que não haveria de evoluir em sua essência primordial (sua psique, alma, espírito, consciência)?
3)     A Jornada Consciencial – Há quem defenda, também, com rigor (e este item é subjacente ao anterior), que a finalidade da vida é trilhar a Jornada Consciencial, elevar o nível de consciência, expandir a consciência dos Seres Essenciais que somos, despertar o Eu-Superior, progredir em luz da consciência. Contudo, esse progresso não acontece a esmo, ao acaso. Ele só é possível na relação com o outro, por meio da vivência em comunhão, da convivência. Émile Durkheim, um dos mais exímios expoentes da Sociologia Moderna, afirma que o ser humano é um ser social por excelência, e seu desenvolvimento como pessoa só se dá a partir da relação com o outro. Todos somos interdependentes. Sob uma perspectiva fraterno-humanística, o outro, o nosso próximo, é a extensão do meu próprio eu. Não há nada que eu faça ao outro que não implique consequências à minha própria pessoa. E assim é com tudo que existe à nossa volta e com todo o Universo. É nessa relação mútua, natural e inevitável que nossa essência se revela, nossa alma se desperta, se expressa, e nosso espírito evolui, elevando-se a níveis de consciência cada vez mais iluminados. Ninguém resume melhor esta máxima que Mikao Usui, decodificador do Método Reiki, quando coloca sabiamente: “Nós somos todos um pedacinho de luz da mesma Fonte. Tudo que fazemos afeta os outros. Como me vejo, reflete a minha alegria em ser parte do Soma. O que pensamos e como trabalhamos afetam diretamente todos os níveis do Cosmo. (...) Tudo que compõe o Planeta Terra – água, ar, flora, fauna, terra, pessoas, criações humanas – é criação de Deus. A Mãe Terra é uma criação de Deus que está viva e respirando. Ela está ligada à humanidade como a humanidade está ligada à Terra. Nós não podemos desfigurá-la nem a nossos companheiros humanos sem sofrermos as consequências dos nossos atos. Nós somos energia coletiva de uma única Fonte. Toda ação que fazemos, fazemos para o Todo.

Um pouco sobre Carl Gustav Jung
Tive o grande privilégio de conhecer Carl Gustav Jung na minha época de faculdade, em 2005, e, por uma questão de gosto pessoal e de identificação com seu pensamento, confesso que, muitas vezes, tento entender pelo menos um pouco de mim mesmo a partir de sua perspectiva teórica.
Contudo, esclareço que, o fato de eu adorar Jung não me obriga em nada a concordar com tudo que o mestre suíço postulou. Não me dou ao luxo de concordar com tudo que se refira à Psicologia Analítica. Mantenho minha criticidade incisiva frente a qualquer assunto. Sou, sim, um grande entusiasta, um simpatizante sincero deste genial psicólogo que é um marco, uma lenda, um mito (olha o trocadilho!... rsrs...) na história da Psicologia, mas, reconheço que, embora toda a obra junguiana seja bem original e muito bem fundamentada, ela é também muito complexa, chegando a ser, algumas vezes, um tanto confusa.
Por outro lado, compreendo que, pelo fato de Jung ter introduzido e abordado assuntos gnósticos dentro de campos de domínio da Ciência, o resultado dos impactos ideológico-culturais da Psicologia Analítica, naquela época, não foi de todo dos melhores. Se até os dias de hoje o preconceito está fortemente arraigado e perdura com rigor em nossa sociedade Ocidental, o que se poderia dizer então do preconceito vigente da época em que Jung viveu e desenvolveu sua escola de Psicologia Analítica? Não são poucos os que consideram Gnose e Ciência dois campos díspares, praticamente antagônicos. Nem são poucos, também, os que consideram que Jung nunca fez Ciência propriamente dita, mas, sim, esoterismo, ficção “new age”. Tentar uma conciliação (mesmo cautelosa e equilibrada à moda Jung) entre estes dois campos não é trabalho para qualquer um. Considero que Jung foi extremamente corajoso por suas tentativas de abrir caminhos e expandir fronteiras para que, novas idéias e assuntos, até então “incompatíveis”, viessem a ser explorados em conjunto para formar todo o núcleo central de uma espiral: a Psicologia Analítica.
Muito embora as teorias junguianas tenham seu inestimável valor, elas ainda permanecem teorias, o que não nos permitiria elevar a Escola Junguiana a um patamar superior a todas as demais. Ter predileção pela Psicologia Junguiana é uma questão da ordem do gosto pessoal, da identificação, e não porque ela é “melhor” que as demais. Cada escola de Psicologia e Psicanálise, a partir dos esboços e experimentos que cada uma delas fundamentou como válidos, tem seu inestimável valor, e a Escola Junguiana tem o dela. O próprio mestre Jung, ao ser interrogado se considerava que o modelo de Freud de prova e experimentação era menos elevado que o seu, respondeu que esta era uma avaliação que não competia a ele fazer, pois ele não era historiógrafo de si mesmo, mas, reconheceu que, em relação a certos resultados, seu método tinha seus méritos.
Uma das teses de Jung com que discordo em partes é a do inconsciente versus consciente. Já que ele adentrou os campos da Gnose e do Misticismo para “mitologizar” tantas considerações menos óbvias em relação à psique, acho que ele deveria ter dado um desfecho mais plausível à questão do inconsciente. Pouco tempo atrás, num fórum de Jung do Orkut, li uma crítica de um freudiano a Jung, em que ele satirizava: “Caro Jung, sempre subjetivo, nunca exato...”. Na época, fiquei intrigado com aquele post. Ocorreu-me de contatar o freudiano e lhe perguntar se por acaso Jung era psicólogo ou matemático, e se sua Psicologia trabalhava com cálculos, equações ou ciências exatas, para que ele o considerasse “sempre subjetivo” e “nunca exato”. Mas me abstive de interferir na opinião dele, afinal, ele deveria ter suas próprias razões para pensar daquele modo. Hoje em dia reconheço que, qualquer teoria, por mais bem fundamentada que seja, deixa brechas para controvérsias, contradições e, por conseguinte, para críticas. Com a Psicologia Junguiana não poderia ser diferente.
Mas voltando à questão que considero que Jung teorizou de maneira insatisfatória e talvez até “pessimista”, em contraponto à sua Psicologia, que fornece base para uma “teleologia da alma”, para a “finalidade da vida”, retomo a teoria junguiana do inconsciente, tentando expor uma possibilidade de re-leitura pessoal (minha) a partir da tese já pronta de Jung sobre o inconsciente. É patente a concepção “pessimista” que Jung parece ter tido do inconsciente.

Para Jung, o inconsciente é primário, original, arcaico. O consciente é secundário (derivado do inconsciente). O campo inconsciente jaz nas profundezas desconhecidas da psique; seu campo de abrangência é muito maior do que o campo da consciência, e ambos “rivalizam”. O inconsciente é de um caráter incoerente e irracional, não é compatível com a lógica da esfera consciente, ele não “fala” a linguagem do intelecto. Mas os “inconvenientes” não param por aí. O inconsciente também é amorfo, caótico, obscuro, incognoscível, podendo, algumas vezes, oferecer “perigos” à mente consciente, especialmente se o ego do indivíduo não for bem estruturado. De uma forma ou de outra, o consciente sempre se encontrará em uma posição desfavorável em relação ao inconsciente. O inconsciente seria, por assim dizer, o campo de maior abrangência, de maior predominância da psique, exercendo força, pressão e variadas influências (diretas ou indiretas) sobre o consciente. Analogamente, é como se o consciente fosse um “escravo” do inconsciente, estando sempre subordinado a este último.
A única chance de mudar em partes essa condição inata do homem seria entrar num processo que Jung denominou INDIVIDUAÇÃO. Nesta odisseia nada fácil – que se trata de um processo autônomo, mas que pode ser melhor conduzido por meio da Psicoterapia Analítica – o indivíduo inicia o desafio de fazer desabrochar o que se encontra em germe em seu universo interior.

É a busca pela auto-realização e completude promovida pela conquista do Self. Muita coisa da esfera inconsciente vem à tona durante este processo de análise. A tarefa fundamental do analista no set terapêutico é auxiliar seu analisando a desbravar seu pântano inconsciente, com direcionamento e cuidados profissionais adequados e personalizados à realidade individual do analisando, ao mesmo tempo em que o próprio analista também se individua. A finalidade central de todo este processo é conseguir integrar o máximo de material inconsciente ao campo de domínio do consciente e unir da forma mais bem sucedida possível os opostos, que são o aspecto dual da natureza psíquica.
Porém, considero “capenga” a concepção simplista de que nossa natureza psíquica seja de natureza dual, de que sejamos paradoxalmente “bem” e “mal” (um exemplo), e que nossos opostos psíquicos devam ser conciliados numa síntese de completude – estou partindo de um pressuposto, de um subentendido, levando em conta esta questão da forma como ela parece ser tratada por Jung: como um “determinismo”, uma “condição fixa” e imutável que devesse ser aceita sem outras alternativas.
Acredito que a consciência seja TUDO em nossas vidas. A consciência é a chave. A única luz existente em todo o nosso cosmo psíquico é a luz da consciência.
Eu a ilustro como um farol tentando lançar sua parcela de luz em meio a toda a negritude inconsciente em torno deste farol. Não é pelo fato de nossa natureza psíquica implicar uma polaridade, uma natureza de opostos, que devemos aceitar de “mão beijada”, passivamente, os arrastamentos interiores, a suposta “autonomia” do lado disfórico e sombrio de nossa personalidade, como se ele falasse por si próprio dentro de nós, como se fosse um “outro eu”. Devemos tentar, sim, esforçarmo-nos por nos libertar das cadeias e das ditaduras do inconsciente, e a única maneira de conseguir isto é nos esforçando o máximo para expandir nosso nível geral de consciência, que é a luz psíquica interior, afinal, acredito que à medida que a luz da consciência é elevada, o nível obscuro do inconsciente é diminuído. Desconfio que aí esteja a resposta para o sentido da vida.
Se o inconsciente é de caráter arcaico, se sua existência é original, primordial, se seu aspecto é turvo, obscuro, incognoscível, cabe a nós, então, dentro deste arranjo existencial prévio, e a partir da cota de consciência de que já dispomos, reverter esta condição original ao seu oposto: evoluir continuamente em CONSCIÊNCIA. Já não se trata mais de simplesmente “unir os opostos”, mas, sim, de quebrar essa cadeia de dualidade cada vez mais (“bem” x “mal”, trevas x luz etc.). Por exemplo: à medida que adquirimos luz, que razão haveria de também nos contentarmos com as trevas? Conforme vamos nos assenhoreando de nós mesmos, adquirindo mais e mais consciência, deixamos de nos contentar com a simplista “união dos opostos”, e iniciamos uma tarefa contrária que vise à mudança do estado inconsciente arcaico: eliminamos o obscurantismo de nossa natureza original ao perdermos campo inconsciente pelo aumento do campo consciente.
No entanto, acredito ainda, que isto tudo não seria possível vivendo-se apenas uma vida. Afinal, o que é o período de uma vida terrena em comparação à Eternidade? O que é o período de uma vida terrena em comparação à dimensão da esfera inconsciente de nossa psique que deve ser “integrada” à consciência? Acredito que uma vida somente não seria suficiente para evoluirmos plenamente em consciência. Eis que considero o Mito da Reencarnação, tão difundido entre tantos povos e correntes de pensamentos.
Se nosso arranjo inconsciente (no caso “desarranjo inconsciente”, rsrs...), que é o ponto de partida original de nossa vida psíquica, é de uma grandeza tremenda, teremos toda a Eternidade ao nosso dispor para adquirir consciência e “transmutar” nossa condição primitiva por meio da EVOLUÇÃO, vivendo no mundo da matéria, onde nossa psique é moldada para este fim específico (trilhar o processo de Individuação e de Jornada Consciencial), para então conquistarmos cada vez mais o Self, que é nosso verdadeiro DNA cósmico, o Eu-Superior de cada um de nós.
A Individuação não é sinônimo de perfeição – bem já asseveram os junguianos. A perfeição é algo destinado a toda a Eternidade e a muitas vivências no reino da matéria, onde em cada existir no aqui–agora, a Individuação irá se processar a nosso favor.
O processo de Individuação não é sinônimo de perfeição propriamente dita, mas nos conduzirá à perfeição a cada vez que o trilharmos por viver no mundo fenomênico da matéria, dentro da atemporalidade, da Eternidade.
Infelizmente, ainda somos tragados pela sombra e só conseguiremos levar luz a ela ao longo da Eternidade, por meio da expansão da luz da consciência.
 Há linhas espiritualistas reencarnacionistas que afirmam que nosso lado sombra (a sombra negativa da perspectiva junguiana) são resquícios que trazemos de nossa totalidade obscura de outros tempos (de vidas passadas) para a nossa vida atual, mas, como estamos concorrendo à evolução contínua em todos os fins, a cada oportunidade de vida no plano material e a partir do sagrado processo de Individuação, logramos levar sempre mais luz à sombra.
Em Letras, nos Estudos da Linguagem, da Análise do Discurso, da Semiologia e Semiótica, tomamos nota de importantes construções lingüísticas que incluem: o dialogismo, a polifonia e a intertextualidade. Esta tríade – dialogismo, polifonia e intertextualidade – é um pouco complexa em conceituação, mas similar em funcionalidade. Ao proceder à análise das estruturas essenciais de construções lingüístico-textuais, identificamos, às vezes, semelhanças de nível semântico (o sentido) dentro de abordagens textuais variadas. Às vezes, o que muda, é apenas o plano de expressão, mas o plano de conteúdo é praticamente o mesmo, ou quase o mesmo. Por exemplo: a perspectiva junguiana da “Individuação” dialoga com a perspectiva espírita da “Reforma Íntima”, com os pontos capitais de “Disciplina” e “Equilíbrio” da Sabedoria Budista (Budismo), com a perspectiva da Conexão com o “Eu-Superior” da Grande Fraternidade Branca, entre outras. As vozes por trás de cada perspectiva abordada coincidem entre si formando o que chamamos de polifonia (várias vozes que se assemelham entre si). A intertextualidade se presentifica a partir da semelhança dos textos no plano de conteúdo (no sentido encerrado em cada um deles).
Continuando, acredito que o processo de expansão da consciência se dê muito além da limitada integração inconsciente–consciente que Jung teorizou. Acredito que a aquisição de níveis cada vez mais abrangentes de consciência promove, paralelamente, um destaque cada vez maior do senso moral, do caráter, das virtudes e da intelectualidade “positiva” voltada para seus subprodutos, dentre os quais cito, apenas a título de exemplos, dois superimportantes: o discernimento e a reflexão. Consciência e inteligência são esferas afins, indissolúveis.
N.B. – Trato da intelectualidade de caráter eufórico, voltada para o “BEM”, e nunca para o “mal” (este é o pressuposto do qual eu parto para as minhas análises pessoais).
É exatamente a partir do discernimento inteligente entre “bem” x “mal”, certo x errado, justo x injusto etc., que podemos estabelecer que o nível de consciência esteja em ascensão, pois o discernimento – assim como a capacidade reflexiva – é um subproduto da razão, da faculdade racional e, consequentemente, da esfera consciente da psique. Pelo menos neste sentido, o consciente teria importância esmagadora em comparação ao inconsciente. Podemos notar, por este lado, que a importância e a supervalorização do inconsciente dentro da perspectiva junguiana, caem por terra, ou pelo menos passam a ser relegadas a um plano secundário, pois, o inconsciente, a partir de sua própria natureza primordial, a qual é considerada obscura (incognoscível), não pode, a priori, oferecer meios racionais a partir dos quais a evolução moral e/ou intelectual da pessoa humana é possível, uma vez que sua linguagem não é a do intelecto (da razão), e, dentro deste contexto, a luz da RAZÃO é imprescindível para o desenvolvimento da consciência. A partir desta análise, considero que o sinônimo adequado para “consciência” seria “ILUMINAÇÃO”, em contraponto ao “inconsciente”, que seria “caos”, “obscuridade” ou até mesmo “trevas”.
Para mim é fútil, totalmente irrelevante uma abordagem do modelo de consciente apenas como um fator psíquico, onde ele se contrapõe e se justapõem ao inconsciente.  Para mim, uma contemplação do modelo de consciente só é plausível e útil se ela fizer jus a uma possibilidade de iluminação interior (espiritual), se ela abrir caminhos para uma autêntica mudança de cada ser humano, sempre para melhor, tornando claros e bem definidos os horizontes e o percurso por onde este ser humano deve trilhar, e principalmente se for possível crucificar a sombra negativa, por meio do combate persistente contra suas tendências obscuras. Neste sentido, eu diria que a Individuação é sinônimo adequado de auto-superação, e não só de auto-realização ou completude como geralmente estipulam alguns junguianos.
Fiquei perplexo ao ler a opinião de alguns junguianos sobre o caso do rapaz que atirou contra adolescentes de uma escola do Rio de Janeiro. Para estes junguianos, o fato ocorrido não pareceu nada espantoso, pois consideram que a complexidade da psique “prevê” que um ser humano possa “ser levado” a praticar até mesmo os atos mais sombrios. Era como se estes estudiosos da Psicologia Analítica achassem “natural” e compreensível este terrível atentado e fizessem considerações cheias de “conformismo”, a partir do pressuposto junguiano sobre a complexidade e os mistérios da psique. Particularmente, eu jamais encararia um fato deste com naturalidade. Muito pelo contrário: para mim este caso é absolutamente antinatural. Tudo bem que nossa psique seja uma totalidade complexa e deve-se levar em conta toda ordem de comportamentos humanos a ela intrínsecos, mas este caso – assim como outros de natureza parecida – configura a exceção, e nunca a regra (tanto que atos hediondos desta gravidade são casos isolados). Não é nada comum que isto aconteça em todos os lugares, o tempo todo – pelo menos não estou habituado a ver algo assim todos os dias.
Também não acredito na supremacia das forças inconscientes como determinantes cabais que levem a absurdos dessa dimensão. Tudo indica que o rapaz premeditou a ação. A execução do atentado parece ter correspondido a um plano inteligente, esboçado com antecedência. A linearidade, o “passo-a-passo” de seus atos foram calculados racionalmente. Houve raciocínio. Isto sugere que ele estava na posse de sua consciência, ou pelo menos em boa parte dela. Acredito, sim, que existam tendências e arrastamentos de naturezas obscuras que possam exercer certa força/pressão/influência interior em muitos indivíduos, mas isto não quer dizer em nada que estas tendências e arrastamentos sejam “irresistíveis” e devam culminar em aberrações deste conteúdo, tanto que Jung afirmou que há sempre algo na psique que domina e limita a liberdade moral de uma pessoa, frequentemente exercendo poder pelo desejo, impulso, prejulgamento, ressentimento e por “todo tipo concebível de complexo. Contudo, esta asserção coloca-se, ainda, em contradição com uma outra de Jung, bem conhecida aliás: “Tudo aquilo a que se resiste, persiste.”
Também não acredito de forma alguma em surto (seja de qual natureza for). A frieza daquele rapaz foi de tamanha grandeza que logo no ato do primeiro disparo efetuado contra o primeiro de seus alvos, ele poderia ter a chance de se “arrepender” e não continuar os disparos – o que infelizmente não aconteceu. Ele simplesmente foi “engolido” pela sombra negativa. E o que o teria levado a optar pelo assassinato maciço de meninas? Talvez ele fosse um rapaz fortemente sugestionado, um pervertido reprimido/recalcado ou um fanático religioso inclinado a certas perniciosidades bem pessoais, mas, sobretudo, conscientes. Esta é apenas a minha opinião, reflete apenas meu ponto-de-vista. Sou leigo em Psicologia, mas acho que ser leigo não seja estar alheio a tudo. Aliás, tudo que se tem em torno do caso em questão, quanto à parte que toca aos verdadeiros estudiosos da mente humana, são conjecturas, opiniões bem pessoais que demonstram apenas em partes um certo teor de validade. Da verdade conclusiva absolutamente ninguém dispõe.
Mas, para dar um melhor desfecho a esta questão que eu considero que certos junguianos “pecaram” por considerar “natural”, evoco o pessimista Sartre, de quem não sou muito simpatizante, mas de quem me faço valer de algumas valiosas considerações para arrematar minha opinião sobre a hipótese do atirador estar ou não em posse de sua consciência.
Sartre rejeita enfaticamente a idéia de causas inconscientes dos fatos psíquicos; para ele tudo que está na mente é consciente. Sustenta que a consciência é necessariamente transparente para si mesma. Todos os aspectos de nossas vidas mentais são intencionais, escolhidos, e de nossa responsabilidade. Teríamos de atribuir a repressão inconsciente a alguma instância dentro da mente (a “censura”) que distingue entre o que será reprimido e o que pode ficar consciente, de forma que essa censura tem de estar a par da idéia reprimida a fim de não estar a par dela. Portanto, o inconsciente não é verdadeiramente inconsciente. Em algum nível eu estou consciente, e escolho o que vou e o que não vou permitir vir claramente à minha consciência. Por isso não posso usar “o inconsciente” como uma desculpa para meu comportamento. Mesmo que eu não possa admitir para mim mesmo, eu estou consciente e escolhendo. Nenhuma “essência” determinada de mim mesmo orienta a priori meu comportamento.
***
A estrada do autoconhecimento é sempre a melhor opção para quem deseja se auto-superar. A luz da consciência está sempre iluminando os passos de quem nutre o desejo sincero de evoluir rumo ao Amor Maior. Outros fatores de peso que fazem parte do conjunto que nos leva a usufruir de níveis cada vez mais elevados e abrangentes de consciência luminosa são:
·        A auto-percepção: é o passeio pelos nossos bosques interiores. É a contemplação, a admiração do próprio universo interior, com toda a sua constelação psíquica. Promove o autoconhecimento ao mesmo tempo em que desperta nossa atenção para a nossa grandeza cósmica, para a nossa vida em comunhão com o Todo.
·        O discernimento: é a capacidade racional de diferenciar o que é “bom” do que é “mau”, para que possamos viver com mais coerência, com mais virtudes, com maior correspondência com o nosso Eu-Essencial. Corresponde aos nossos juízos de valor e realidade. Permite que façamos escolhas mais acertadas para as nossas vidas, que usemos melhor nosso livre-arbítrio, levando-nos ao crescimento contínuo e à sabedoria.
·        A reflexão: é uma das mais encantadoras faculdades da consciência. É o exame da própria consciência em relação a si mesma: é a metaconsciência. É a disposição espontânea que temos de ouvir a voz do próprio Eu-Profundo, do Eu-Divino que reside dentro de nós, nosso juiz interior. O recurso da reflexão ajuda-nos a levar luz a qualquer ponto escuro de nosso universo imanente.
·        O auto-policiamento: outra capacidade fantástica da consciência luminosa. É o “Orai e vigiai.” de Jesus. É a sondagem, a ronda que a consciência faz, usando sua artilharia se preciso for, de modo a combater as manifestações da sombra negativa.
Enquanto evoluímos em consciência, naturalmente evoluímos em nossa essência infinita, cósmica, e vamos nos completando cada vez mais rumo ao Ser que fomos destinados a ser: Seres Iluminados, repletos de luz da consciência, conectados com nosso Eu-Superior, com o ponto mais elevado de nosso Self.
Não há como contestar a importância da consciência em nossas vidas. A consciência é TUDO. Só a partir da vontade consciente é que podemos melhorar. Esta é uma conquista 100% pessoal e não admite quaisquer privilégios fora do “Eu”. Certos junguianos que me desculpem, mas eu faço questão de colocar o consciente em uma posição de destaque em relação ao inconsciente. Embora a teoria junguiana seja bastante desencorajadora por colocar o inconsciente a priori – enaltecendo assim o inconsciente –, percebo que o mestre suíço se viu na necessidade de reconhecer o valor finalístico do consciente (que eu mesmo considero um ponto capital e não abro mão dele), quando ele expõe: Pode-se mesmo supor que justamente como o inconsciente nos afeta, assim o aumento de nossa consciência afeta o inconsciente.”.
Por Gilson Guimarães (28/04/2011).

Um comentário:

  1. Um bom texto, resume muitas teorias e livros de auto-ajuda, mas eis aqui o advogado de defesa de Jung..rsssssss

    Eu li e reli seu artigo, e tem algo que imagino não ter ficado claro para você na teoria dele. Ele não é pessimista em relação ao inconsciente e tão pouco desvaloriza a consciência. Bem pelo ontrário, ele é um dos poucos pensadores que afirma que o inconsciente REGULA e CURA a psique. Ele afimra que a consciência é ainda muito frágil na espécie humana, que é uma característica em construção, muito nova em termos hisóricos e por isso esta, muitas vezes se submete as invasões do inconsciente. Agora a Psicanálise de uma maneira geral pontua o inconsciente como um grande vilão, e Jung já foi psicanalista, talvez textos antigos dele tragam isso irraigado, mas mesmo nessa época ele ja discordava dessa postura.

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